20 de fevereiro de 2010

O armário

Anos se passaram, até decidir que meus sentimentos mais genuínos seriam guardados no armário do quarto, não no coração.

O coração, como qualquer outro órgão do corpo humano, falha. Às vezes, ele bate de forma acelerada, outras, ameaça parar repentinamente. Dois são os culpados por essa troca, a princípio, material e pouco humanizada: as dores pungentes e as alegrias incontidas.

Quando me dei conta da fragilidade do lado esquerdo do peito, decidi enfiar todas as lembranças da minha vida naquele objeto, aparentemente, obsoleto e que, cedo ou tarde, não estaria ali.

Simples assim. Cartas, bilhetes, óculos, bichos de pelúcia, brinquedos: tudo que me trazia felicidade, dor, saudade e tristeza. Não queria mais nada, só um coração novo. Transferi tudo que o atormentava compulsivamente para um lugar de fácil acesso, porém, trancado a sete chaves.

Sem hesitar, coloquei toda a emotividade em cada um dos itens. Determinei, entretanto, que não abriria aquela porta até ter convicção de que necessitava de energias para seguir em frente.

6 comentários:

Giovana disse...

adorei, João!
me fez refletir e pensar na minha 'caixinha de lembranças' que eu tenho guardada no armário! hahahaha essas coisas podem trazer a tona memórias boas e ruins, só depende da maneira como as enxergamos!

e eu já falei que vc escreve bonitamente! hahahaha

beeijos!

Ana Claudia Machado disse...

Muitos podem confundir tudo isso com insegurança....

Mas, sinceramente, é necessário muita coragem para "guardar tudo no armário".
Afinal, uma hora ou outra, teremos que enfrentar os nossos medos... São mais ou menos como os "montros do armário" da nossa infância...rs


Um belo post Xuão....como sempre, né?

Gi Olmedo disse...

Ali encontra-se o museu, a história da sua vida e dos teus momentos... bons ou ruins, mas partes da tua existência. Valioso.

beijos!

Rafael Sperling disse...

Cuidados pra não abarrotar o amário de coisas e ficar uma confusão.
abraços

My disse...

Ti munito. Cho rei!
Mas tenho de discordar, porque o amor verdadeiro não consegue se transferir para o objeto, e fica guardadinho lá no fundo do nosso subconsciente, amém Jung ou será Freud? Pode jogar todas as lembranças no lixo, mas ao final, quando ouvir uma música, sentir um perfume ou simplesmente se olhar no espelho, o amor vai estar lá...

[ rod ] ® disse...

O armário das lembranças deve ficar em subjugo ao ante passado! e nunca mais ser revisitado... evita-se a dor!

Bjs moça e obrigado pela visita lá na Confraria.




Aliás, hoje estou tanto no dogMas quanto na Confraria!

http://confrariadostrouxas.blogspot.com/2010/03/dama.html