Anos se passaram, até decidir que meus sentimentos mais genuínos seriam guardados no armário do quarto, não no coração.
O coração, como qualquer outro órgão do corpo humano, falha. Às vezes, ele bate de forma acelerada, outras, ameaça parar repentinamente. Dois são os culpados por essa troca, a princípio, material e pouco humanizada: as dores pungentes e as alegrias incontidas.
Quando me dei conta da fragilidade do lado esquerdo do peito, decidi enfiar todas as lembranças da minha vida naquele objeto, aparentemente, obsoleto e que, cedo ou tarde, não estaria ali.
Simples assim. Cartas, bilhetes, óculos, bichos de pelúcia, brinquedos: tudo que me trazia felicidade, dor, saudade e tristeza. Não queria mais nada, só um coração novo. Transferi tudo que o atormentava compulsivamente para um lugar de fácil acesso, porém, trancado a sete chaves.
Sem hesitar, coloquei toda a emotividade em cada um dos itens. Determinei, entretanto, que não abriria aquela porta até ter convicção de que necessitava de energias para seguir em frente.