21 de abril de 2010

Educação falida


Recentemente tenho feito duras críticas ao ensino superior. Isso inclui o papel da instituição de ensino, do professor e do aluno. Neste círculo ultrapassado chamado “educação”, me desestimula o fato de ouvir discursos tão certeiros, utópicos e pragmáticos. Como se educar alguém fosse algo exato e linear.


Para ser sincero, acho que tudo isso é descartável em minha vida. Não preciso que um sistema educacional retroativo me diga o que devo ou não fazer para ser um profissional qualificado ao mercado ou um acadêmico de currículo invejável.


Tive ótimos professores nesses três anos de faculdade. Alguns, no sentido literal da palavra, já que grande parte deles ainda prega o esquerdismo como prática salvadora, me ensinaram o objetivo do ensino superior.


Ele, antes de mais nada, deve ser um espaço de discussão. O intuito é despertar o senso crítico dos alunos, aguçar a curiosidade e ampliar seus horizontes. Pensando assim, no estágio atual, isso não acontece mais. Trata-se de algo mecânico, alienado e conduzido pela unanimidade burra, como já dizia Nelson Rodrigues.


Fazendo uma limpeza em meu correio eletrônico, encontrei um texto que relata o nível da educação atual no Brasil. A meu ver, ele é perfeito. O texto, de autoria de um grande professor e amigo Domingos Zamagna, externa o papel do professor e fala da degradação educacional. Acho que não preciso dizer mais nada. O mestre, assim carinhosamente chamado por nós, tem embasamento de sobra para falar sobre isso.


Cenário da educação brasileira

Dentro de mais alguns dias os professores retornarão às salas de aula.
O reinício dos semestres nem sempre é tranquilo numa instituição educacional. Uma das razões de desconforto são as demissões feitas durante o período de férias, quando as escolas estão desmobilizadas.


Algumas instituições de educação aprimoraram-se, requintaram-se no processo de demissão. Aguardam até o último momento consentido pela legislação, deixam que os professores participem do planejamento do semestre, corrijam as provas, preencham e entreguem seus diários de classe e algumas horas depois, nem mesmo isso, às vezes ato contínuo, entregam-lhe o aviso de demissão. Outras expedem um telegrama, calculado para ser recebido quando o professor chegar em casa. Nenhum esclarecimento. Procurar o diretor? Obviamente ele já não está mais na instituição. Fica de plantão um preposto, para confirmar o fato, acrescentar que lamenta, quem sabe no futuro se reencontrarão, afinal o país passa por uma crise etc. Além disso, é de praxe dizer que nos questionários de revisão do semestre - sempre inacessíveis - o professor não foi bem avaliado. O(s) preposto(s) sabe(m) o que são os ossos do ofício, enquanto aguarda(m) a promoção. O script é surrado.


A dor causada por estes procedimentos é sempre profunda; mais intensa, porém, quando se trata de escolas confessionais, especialmente as católicas, que são as que conheço melhor. Se algumas são excelentes, outras ainda são anacrônicas ou persistem em alicerçar-se sobre paradigmas completamente falidos. É uma tristeza constatar que existem escolas que estão descuidando da educação para se tornarem casernas, arenas de práticas de competição e concentração de poder.


Antigamente, quando convencidos de ilícitos ou injustiças, estudantes e professores protestavam, cobravam explicações, faziam a direção expor a própria cara. Hoje eles são de tal modo intimidados, manipulados, inclusive por uma calculada política de bolsas de estudos e planos de carreira, que não se pode esperar nenhuma forma de solidariedade, sob pena de punição.
Isso ainda é pouco. Um professor não é somente um profissional do ensino. Cada vez mais frequentemente ele é solicitado a completar ou até mesmo suprir, em sala de aula, o dever inalienável da família, a educação. Pois nem sempre um adolescente ou um jovem tem uma família que o apoie.


Que esperanças um professor pode oferecer a uma juventude já tão castigada? Como incentivar adolescentes e jovens na vida de estudos, na busca da competência profissional, na assunção dos valores que farão dele um cidadão? Qualquer esforço do professor direcionado nessa linha encontrará em nosso país, atualmente, um desmentido prático. Os jovens que têm os olhos abertos deparam-se com um cenário alucinante. As pessoas que eles e seus pais ajudaram a eleger para nos representar no Parlamento estão dando o pior exemplo possível em matéria de incompetência, omissão, corrupção, nepotismo, empreguismo, fisiologismo, falsidade, absenteísmo, peculato, mentiras, roubos, lavagem de dinheiro, vaidade, ostentação, apego aos cargos, desperdício etc.


Até quando vamos conseguir sorver tanto espanto e decepção diante da fileira quotidiana de denúncias?


Se neste ano recomeçaremos o semestre com o pesado complicador de uma nova gripe mortífera, paira sobre nós também outro decepcionante e onipresente fardo, o péssimo exemplo dos mais altos graus da hierarquia da República, que nos últimos tempos se mostram cada vez mais dispostos a blindar aliados espúrios, ignorar as críticas construtivas, acobertar crimes, minimizar erros, aliar-se ao que há de mais decrépito na nação, desautorizar os esforços de implantação da ética na política.


Para o bem e a proteção dos estudantes, os professores precisam estar atentos para a assepsia contra o vírus da gripe A H1N1 nas escolas. Mas precisam impedir que entre na sala de aula, e banir para bem longe do processo educacional, um outro vírus devastador: o exemplo da podridão moral que vem de cima.

17 de abril de 2010

Provar o quê?



Mais uma semana de provas exaustivas no ensino superior, ou melhor, no 3°grau.

Para os acadêmicos de plantão, existe uma diferença gritante entre as duas definições.

Por isso, já que a descrença é o único adjetivo capaz de me confortar nos momentos de pura desilusão e vontade de jogar tudo para o alto, escolho o 3°grau para deixar o texto esteticamente mais atraente.

Novembro, Primavera de 2007:

Professor:

- Prova para mim não prova absolutamente nada. Levem esse pedaço de papel e escrevam conscientemente o que acharem necessário. Quero que desenvolvam um raciocínio crítico, que ampliem seus horizontes. Esse é nosso objetivo aqui. Agregar conhecimento e estimulá-los!

3°grau:

- Olha, professor, não é bem isso que queremos aqui. De alguma forma, eles precisam ser avaliados. Espero que entenda nossa posição. Alguns reclamaram de sua postura.

Professor:

- ALIENAÇÃO ACADÊMICA! É ISSO QUE VOCÊS QUEREM E PRETENDEM. É ESTE O TIPO DE EDUCAÇÃO QUE ALMEJAM?

3°grau:

- Não, professor. Acho que você não entendeu...

Professor:

- Entendi muito bem. O recado já foi dado e a semente já foi plantada. Vamos ver quanto tempo ela demora para desabrochar.

Abril, Outono de 2010:

Professor:

- Pessoal, é fácil. Vamos lá, um texto para tv, outro para rádio. Priorizem a informação mais importante.

Aluno 1:

- Nossa, isso é muito difícil. Não consigo.

Aluno 2:

- Ah, é fácil, vai. Quer uma ajuda ai, amigão?

Aluno 3:

- Não, ela já brotou.

Aluno 1:

- Brotou o quê?

Aluno 2:

- Não entendi.

Aluno 3:

- A consiciência.

9 de abril de 2010

Só mais uma história de amor...


Digamos que não tenha sido amor à primeira vista ou algo milimetricamente planejado. Foi, sim, despretensioso, oportuno. Talvez por isso a relação fosse tão calorosa.

Até então, não almejava mais se apaixonar. Achava que as coisas aconteceriam não porque queria, mas porque tinham de acontecer.

Habilidoso com a escrita, as palavras fluíam naturalmente, sem sequer fazer esforço. Foi daí, portanto, que passaram a se conhecer melhor. Ainda assim, aquilo era apenas uma característica comum. Obstáculos intransponíveis surgiam em sua mente e o impediam de continuar.

Acordava durante a noite e pensava sobre o assunto. Seria essa a melhor opção? Os problemas eram gigantescos e a cobrança exaustiva sobrecarregava seus ombros.
Mesmo assim, decidiu assumir o relacionamento. Afinal, aquela poderia ser a chance da sua vida.

No começo, tudo beirava à perfeição. Os dois caminhavam juntos em direção ao estrelato. Eram companheiros diários: manhãs, tardes e noites.
Ele queria ajudar, contribuir de alguma forma para que a sociedade fosse mais justa, mais igual. Via aquela relação como a única ferramenta palpável capaz de fazer isso.

Com o tempo, entretanto, percebeu o árduo trabalho que tinha em mãos. Surgiram as primeiras decepções. Seu companheiro passou a ser usado por alguns para alavancar valores individualistas.

Não podia cobrar nada. Afinal, por mais que tivessem escolhido um ao outro, seu parceiro era fielmente ligado à literatura e tinha relações com nomes de peso que ele mesmo admirava.

Sem o mesmo entusiasmo de antes, continuou. Os golpes traziam a ele dores incalculáveis. Alguns, inclusive, maltratavam sua companhia mais perfeita. Feriam o direito à liberdade de expressão. Confundiam livre-arbítrio com adjetivação barata. Falavam sem pensar e redigiam sem entender.

Não, não suportava mais aquilo. Como todo relacionamento tem seus altos e baixos, às vezes, via coisas incríveis que o faziam mudar de ideia e raciocinar.

Foi então que, numa bela manhã de outono, decidiu agir. Pegou um pedaço de papel, um lápis e, carinhosamente, anotou palavra por palavra, letra por letra. Sabia que poderia ser uma decisão irrevogável ou desistir e tentar mais uma vez. Mesmo sabendo que não seria lido, que ninguém daria atenção ou compreenderia, escreveu:

“Não é segredo para ninguém que estamos em crise. Eu tentei gostar de você e ver as coisas de outra forma. Aliás, eu gostei de você. Mas tais circunstâncias não permitiram que esse sentimento crescesse. Vou embora, e quem sabe um dia volte. Obrigado por ter me trazido um conhecimento tão abrangente e variado. Hoje, 7 de abril, dia do jornalista, eu me despeço de você e todos os seus casos. Adeus, meu querido e belo jornalismo."

E foi embora meio sem rumo. Ninguém nunca soube se ele retornou ou não. Mas uma coisa era certa: seu amor por ele nunca acabou.