Recentemente tenho feito duras críticas ao ensino superior. Isso inclui o papel da instituição de ensino, do professor e do aluno. Neste círculo ultrapassado chamado “educação”, me desestimula o fato de ouvir discursos tão certeiros, utópicos e pragmáticos. Como se educar alguém fosse algo exato e linear.
Para ser sincero, acho que tudo isso é descartável em minha vida. Não preciso que um sistema educacional retroativo me diga o que devo ou não fazer para ser um profissional qualificado ao mercado ou um acadêmico de currículo invejável.
Tive ótimos professores nesses três anos de faculdade. Alguns, no sentido literal da palavra, já que grande parte deles ainda prega o esquerdismo como prática salvadora, me ensinaram o objetivo do ensino superior.
Ele, antes de mais nada, deve ser um espaço de discussão. O intuito é despertar o senso crítico dos alunos, aguçar a curiosidade e ampliar seus horizontes. Pensando assim, no estágio atual, isso não acontece mais. Trata-se de algo mecânico, alienado e conduzido pela unanimidade burra, como já dizia Nelson Rodrigues.
Fazendo uma limpeza em meu correio eletrônico, encontrei um texto que relata o nível da educação atual no Brasil. A meu ver, ele é perfeito. O texto, de autoria de um grande professor e amigo Domingos Zamagna, externa o papel do professor e fala da degradação educacional. Acho que não preciso dizer mais nada. O mestre, assim carinhosamente chamado por nós, tem embasamento de sobra para falar sobre isso.
Cenário da educação brasileira
Dentro de mais alguns dias os professores retornarão às salas de aula.
O reinício dos semestres nem sempre é tranquilo numa instituição educacional. Uma das razões de desconforto são as demissões feitas durante o período de férias, quando as escolas estão desmobilizadas.
Algumas instituições de educação aprimoraram-se, requintaram-se no processo de demissão. Aguardam até o último momento consentido pela legislação, deixam que os professores participem do planejamento do semestre, corrijam as provas, preencham e entreguem seus diários de classe e algumas horas depois, nem mesmo isso, às vezes ato contínuo, entregam-lhe o aviso de demissão. Outras expedem um telegrama, calculado para ser recebido quando o professor chegar em casa. Nenhum esclarecimento. Procurar o diretor? Obviamente ele já não está mais na instituição. Fica de plantão um preposto, para confirmar o fato, acrescentar que lamenta, quem sabe no futuro se reencontrarão, afinal o país passa por uma crise etc. Além disso, é de praxe dizer que nos questionários de revisão do semestre - sempre inacessíveis - o professor não foi bem avaliado. O(s) preposto(s) sabe(m) o que são os ossos do ofício, enquanto aguarda(m) a promoção. O script é surrado.
A dor causada por estes procedimentos é sempre profunda; mais intensa, porém, quando se trata de escolas confessionais, especialmente as católicas, que são as que conheço melhor. Se algumas são excelentes, outras ainda são anacrônicas ou persistem em alicerçar-se sobre paradigmas completamente falidos. É uma tristeza constatar que existem escolas que estão descuidando da educação para se tornarem casernas, arenas de práticas de competição e concentração de poder.
Antigamente, quando convencidos de ilícitos ou injustiças, estudantes e professores protestavam, cobravam explicações, faziam a direção expor a própria cara. Hoje eles são de tal modo intimidados, manipulados, inclusive por uma calculada política de bolsas de estudos e planos de carreira, que não se pode esperar nenhuma forma de solidariedade, sob pena de punição.
Isso ainda é pouco. Um professor não é somente um profissional do ensino. Cada vez mais frequentemente ele é solicitado a completar ou até mesmo suprir, em sala de aula, o dever inalienável da família, a educação. Pois nem sempre um adolescente ou um jovem tem uma família que o apoie.
Que esperanças um professor pode oferecer a uma juventude já tão castigada? Como incentivar adolescentes e jovens na vida de estudos, na busca da competência profissional, na assunção dos valores que farão dele um cidadão? Qualquer esforço do professor direcionado nessa linha encontrará em nosso país, atualmente, um desmentido prático. Os jovens que têm os olhos abertos deparam-se com um cenário alucinante. As pessoas que eles e seus pais ajudaram a eleger para nos representar no Parlamento estão dando o pior exemplo possível em matéria de incompetência, omissão, corrupção, nepotismo, empreguismo, fisiologismo, falsidade, absenteísmo, peculato, mentiras, roubos, lavagem de dinheiro, vaidade, ostentação, apego aos cargos, desperdício etc.
Até quando vamos conseguir sorver tanto espanto e decepção diante da fileira quotidiana de denúncias?
Se neste ano recomeçaremos o semestre com o pesado complicador de uma nova gripe mortífera, paira sobre nós também outro decepcionante e onipresente fardo, o péssimo exemplo dos mais altos graus da hierarquia da República, que nos últimos tempos se mostram cada vez mais dispostos a blindar aliados espúrios, ignorar as críticas construtivas, acobertar crimes, minimizar erros, aliar-se ao que há de mais decrépito na nação, desautorizar os esforços de implantação da ética na política.
Para o bem e a proteção dos estudantes, os professores precisam estar atentos para a assepsia contra o vírus da gripe A H1N1 nas escolas. Mas precisam impedir que entre na sala de aula, e banir para bem longe do processo educacional, um outro vírus devastador: o exemplo da podridão moral que vem de cima.