7 de setembro de 2009

Planos frustrantes

[...]
Era todo desajeitado. Simples, pragmático, calado. Tinha uma maneira peculiar de viver a vida. Deixava a barba crescer para que não enxergassem tamanha sensibilidade. Cabelo razoavelmente grande, cheio de pontas. Ar rebelde a algo melancólico.

Aquele dia seria diferente. Havia alguma coisa especial. Acordou esperando um presente que, talvez, nunca recebesse. Animado, imaginou os detalhes mais sórdidos, sem ao menos levantar-se da cama.

O que diria no exato momento, quais seriam as consequencias; traçou tudo minuciosamente. Quando nada escapava do seu controle, resolveu encarar o que estava por vir.
Ao descer as escadas, nenhuma surpresa. Os pais logo o abraçaram e proferiram-lhe uma porção de palavras agradáveis.

Alegre com o belo começo de manhã de sexta-feira, ficou ainda mais ansioso. Os amigos, tanto os mais próximos quanto os mais distantes, vieram ao seu encontro. Uns deram-lhe abraços e dissertaram por alguns minutos. Outros, retraídos, apenas um aperto de mão repleto de energias positivas.

Pessoas que, até então, mal o conheciam também falaram com ele. Queriam saber absolutamente tudo. Tirar o atraso de anos sem qualquer tipo de contato.
Embora todos o olhassem de maneira diferente, pela primeira vez, sentiu que a frustração estava se aproximando.

Com o decorrer do dia, tudo que imaginara transformava-se em pura utopia. Em meio as palavras, discursos e abraços, aquilo que mais aguardava não aconteceu. Sua ideia, matematicamente estruturada, milimetricamente traçada, fracassou, sem ao menos dar indícios de ser postergada.

Voltou para casa. A família tentou ovacioná-lo novamente. Quieto, foi ao banheiro e aparou a enorme barba, que já não fazia sentido estar ali.
Percebeu que tantos planos não se encaixavam mais em sua vida, principalmente se forem alheios a atitudes esperadas. O tempo que perdeu naquela manhã, tentando prever a incerteza com convicção, se foi para sempre.

Decidiu que, a partir daquele dia, não viveria mais sob custódia do futuro. Não esperaria que fizessem por ele o que passava horas imaginando.
O tamanho da barba seria seu medidor particular. Ela não ficaria muito grande, mas nem por isso seria feita diariamente. Estava simplesmente à mercê do agora.
[...]

Um comentário:

Dhoruba Veny disse...

Hedonismo ... é o que temos para hoje !

Pensamento do final de semana:" Só mais um gole e eu te deixo ir".

Porque bêbado se relaciona assim, huahsus !

Abraço meu querido !